Unidade 2. As áreas da vida que são afetadas pelo género
A socialização de género ocorre através de quatro grandes agentes de socialização: família, escola, grupos de pares, e meios de comunicação social. Cada agente reforça os papéis de género ao criar e manter expetativas normativas para comportamentos específicos de género. Os agentes secundários, tais como a religião e o local de trabalho, também consolidam esse comportamento. Ao longo do tempo, a exposição repetida a estes agentes dá a homens e mulheres uma falsa sensação de que estão a agir naturalmente em vez de seguirem um papel socialmente construído.
De acordo com Gamble & Gamble a família é uma fonte primária de identidade de género porque proporciona aos seus membros as suas primeiras experiências de socialização. As famílias revelam os seus valores, os tipos de comunicação e influência no desenvolvimento do papel sexual. Os mesmos autores argumentam que as famílias continuam a reinventar-se para refletir a dinâmica da vida do século XXI.
A maioria dos rapazes e das raparigas aprendem muito cedo quais são as atividades mais valorizadas para meninos ou para meninas. O mesmo acontece com as atividades que são desencorajadas a empreender.
A amizade dos homens pode não envolver o mesmo tipo de intimidade que caracteriza a amizade das mulheres. Alguns investigadores vêem-nas como menos profundas e mais superficiais. Talvez, uma explicação melhor seja que o tipo de proximidade que alcançam é simplesmente diferente. Para as mulheres a proximidade é intimidade; para os homens é lealdade.
O género modera algumas das diferenças nos traços de personalidade em contextos específicos. Diz-se que as mulheres são mais agradáveis com os amigos e com os colegas de trabalho. Os homens são muito menos neuróticos com os pais do que as mulheres, mas não há diferenças de género nas relações com os amigos e colegas de trabalho. As diferenças de género podem ser específicas da situação ou do contexto. As diferenças de personalidade entre os géneros podem ser decorrentes de diferentes papéis sociais e não de diferenças inatas. No entanto, as menores diferenças de género no trabalho podem dever-se ao facto de os ambientes de trabalho serem suscetíveis de restringir o comportamento tanto dos homens como das mulheres da mesma forma. Portanto, quaisquer diferenças entre os géneros serão mais pequenas no trabalho do que em geral.
As normas sociais e culturais determinam o comportamento e as crenças no seio de um grupo cultural ou social específico. Por exemplo, as mulheres idosas são mais propensas a participar em voluntariado, enquanto os homens estão mais envolvidos em atividades físicas na comunidade. As mulheres idosas estão mais frequentemente envolvidas na educação do que os homens. As normas sociais e culturais têm um grande impacto sobre o comportamento individual numa grande variedade de contextos.
A saúde, a doença e a violência têm género. As normas determinam o que é (in)aceitável nas interações humanas. A violência de género afeta sobretudo mulheres e raparigas. O abuso pode ser físico, sexual, psicológico ou verbal. As crises aumentam ainda mais o risco de abuso. A violência online contra as mulheres, que inclui o discurso de ódio baseado no género, é uma forma emergente de violência de género.
A diferença salarial entre géneros é uma consequência de várias desigualdades que as mulheres enfrentam no acesso ao trabalho, na progressão e nas recompensas.
Cerca de 30% da diferença salarial total entre homens e mulheres é explicada pela sobre representação das mulheres em setores relativamente de baixa remuneração, tais como a prestação de cuidados e a educação. Por outro lado, a proporção de empregados masculinos é muito alta (mais de 80%) em setores melhor remunerados, como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).
As mulheres em média gastam menos horas no trabalho remunerado do que os homens, mas mais horas em trabalho não remunerado.
O teto de vidro: A posição na hierarquia influencia o nível de remuneração: menos de 10% dos líderes de topo das empresas são mulheres. A profissão com as maiores diferenças nos valores por hora na UE são as dos gestores: 23 % menores para as mulheres do que para os homens.
Em alguns casos, as mulheres ganham menos do que os homens por fazerem trabalhos de igual valor.
As desigualdades no sucesso profissional são, por vezes, atribuídas a mulheres que tiram licença de maternidade após terem filhos. Além disso, as mulheres são acusadas de procurarem intencionalmente empregos com menos horas e salários mais baixos, para estarem mais flexíveis para os seus filhos.
A diferença salarial entre os géneros também tem sido atribuída à diversidade de características do local de trabalho (educação, horas de trabalho, profissão, etc.)
A pandemia exacerbou as desigualdades existentes entre mulheres e homens em quase todas as áreas da vida.